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Ser de esquerda Jaime Machado · 54 min · Jose Manuel AlvesPCP Jose Manuel Alves · 2 h ·

 Ser de esquerda

Jaime Machado 54 min 
NA PERIFERIA DO IMPÉRIO E DA SORTE
por Carlos Matos Gomes
A atual fase da manobra dos Estados Unidos no Médio Oriente através de Israel constitui uma evidente consideração do papel da União Europeia como um ator subordinado na periferia do império — um esfregão.
As atuais ações dos Estados Unidos no Médio Oriente inserem-se numa estratégia apresentada há anos pelo domínio do grande espaço da margem oriental do Mediterrâneo que inclui a Síria, o Iraque e tem como objetivo principal o Irão.
Para alcançar este objetivo, os Estados Unidos necessitam de uma base segura e absolutamente dedicada e essa base é Israel. As ações que através dos israelitas os Estados Unidos estão a desenvolver na Palestina e no Líbano — o genocídio dos palestinianos e a destruição do que resta do Líbano — tem por finalidade criar uma situação em que Israel não tenha de dividir meios e forças para assegurar o seu domínio interno com perturbadores como os movimentos de resistência palestiniana e se possa concentrar no objetivo principal, o de servir de base de ataque — ou testa de ponte — no ataque ao Irão. A eliminação dos palestinianos — sob qualquer pretexto, seja o Hamas ou a qualidade da água do Jordão — assim como o controlo absoluto do Líbano têm a finalidade de preparar o ataque ao Irão e esse ataque tem de ser efetuado antes que este passe a dispor de capacidade nuclear e de um escudo de proteção antiaéreo eficaz.
A violência, o desprezo pela opinião pública por parte dos dirigentes de Israel e as afirmações de apoio incondicional aos objetivos anunciados por Netanyahou feitas pela administração americana resultam da urgência de provocar o Irão e de o atacar e esta urgência liga-se a uma outra, a de evitar que depois de alcançados os seus objetivos na Ucrânia, a ocupação do Donbas e neutralização da capacidade militar ofensiva de Kiev, a Rússia esteja em condições de apoiar o Irão sem as limitações atuais. O tempo urge.
Nesta fase, os Estados Unidos estão a conduzir uma guerra em duas frentes relativamente barata, com sucesso absoluto em termos militares na Palestina e no Líbano (alvos moles), com grandes dificuldades na Ucrânia, mas com ganhos económicos significativos, pois eliminaram a União Europeia como concorrente económico, impuseram-lhe o seu petróleo aos preços que lhes convém para asfixiar a sua indústria, ainda a obrigaram a pagar a guerra na Ucrânia quer diretamente com as doações e empréstimos sem prazo, quer através das compras de armamento americano. Com as duas guerras que conduz à distância, os Estados Unidos têm hoje uma economia florescente que justifica a alegria de Kamala Harris e permite as rábulas de Trump. Existe apenas um problema: com uma derrota (previsível) na Ucrânia, os Estados Unidos serão tentados a demonstrar a sua força noutro cenário e esse será, com elevadas probabilidades, o Irão.
As duas esquadras americanas atualmente posicionadas como guarda-costas de Israel permitem que o objetivo da limpeza do terreno na Palestina e no Líbano seja efetuada sem resistência significativa, nem intervenção externa, mas não são suficientes para apoiar um ataque ao Irão com possibilidade de sucesso. Há que trazer mais meios quer de defesa antiaérea, quer lançadores de armas de ataque. Os Estados Unidos necessitam de um pretexto para utilizarem as armas nucleares de que dispõem em Israel, antes de empregarem as embarcadas nos seus meios navais e aéreo, e é essa necessidade que está a ser discutida embrulhada na narrativa da autorização por parte dos Estados Unidos de utilização de misseis balísticos de longo alcance a partir da Ucrânia. É evidente que a Ucrânia não é tida nem achada nessa “autorização”, os misseis de longo alcance serão utilizados ou não de acordo com a manobra dos Estados Unidos.
O momento em que os misseis — os ATACMS — serão lançados a partir da Ucrânia contra um objetivo significativo no interior da Rússia está dependente do final da operação de limpeza em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano. Esse ataque será a casus belli que justificará uma resposta da Rússia, desejavelmente, do ponto de vista dos Estados Unidos, com armas nucleares táticas, que dê o pretexto para um ataque nuclear ao Irão não só às suas instalações nucleares, mas a toda a sua infraestrutura económica.
É este o tabuleiro de xadrez onde se está a jogar a nossa existência. Um tabuleiro onde a União Europeia não joga, apenas paga e sofre as consequências que são previsíveis de rápido empobrecimento, como acontece com as periferias dos impérios em guerra.
A manobra dos Estados Unidos no Médio Oriente tem uma elevada possibilidade de implicar o emprego de armas nucleares e é essa possibilidade que está a ser equacionada, e para a qual os meios de manipulação já estão a preparar as opiniões públicas ocidentais, amplificando os avisos que Moscovo tem feito da alteração da sua doutrina de emprego face à manobra de envolvimento que está a observar e que não necessita, aliás, de especiais dotes de presciência.
De Bruxelas nem uma palavra.

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