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QUASE DESPEDIDA


COMO SEMPRE ME OPUZ A DESPEDIDAS, A MINHA IDA PARA LISBOA, EM SETEMBRO DE 1952, IA SENDO DESPEDIDA DOS MEUS PAIS! DESIGNEI-A POR "QUASE DESPEDIDA", UMA VEZ QUE OS MEUS PROGENITORES FICARAM EM FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO E EU FIZ ESCALA NA GUARDA, NA COMPANHIA DO CASAL BRASILEIRO, PARENTES, SEGUNDO ELES! FICOU ASSIM:

                           QUASE DESPEDIDA


                        A MUDANÇA PARA LISBOA

                                                 I
 

Ainda hoje não percebi como foi concluído o “negócio” entre minha mãe e meu irmão Licínio, da minha ida para Lisboa! Gostava de saber, mas agora é tarde demais; ambos os negociadores já se ausentaram para a terra do nunca mais e se só agora me despertou o gosto de saber bem posso prescindir dele !
Do que melhor me recordo é da chegada a Castelo Melhor, uns dias antes da Festa em louvor de Nossa Senhora do Rosário, a padroeira, que se realizavam nos dias vinte e dois e vinte e três de Setembro, de um casal de brasileiros, ou brasileiro falando, com uma bagagem de longo curso e que afirmaram familiares de meu Pai, parentes de que ninguém ouvira falar antes e que eles adiantaram, perante o ar de incrédulo de meu Pai e de dúvida da minha Mãe, que a mais próxima família era de Algodres, mas ou não estavam ou para eles não tinham espaço em casa!
Dos olhares trocados entre os meus progenitores se concluiu que não deixariam os desconhecidos familiares sem abrigo! E lá se instalaram, não muito bem porque o espaço era pouco, mas na casa de um português há sempre lugar para mais três e eles eram só dois, mas valiam por três! Que grande treta, esta!
Não gostavam de nada do que se comia lá em casa, apenas comiam carne, magra ou gorda, desde que fosse muita!
O calor que em Setembro se faz sentir e aquelas refeições pesadas, a partir do segundo dia os efeitos intestinais não perdoaram e a diarreia, não declarada, era notada pela quantidade de porcaria que defecavam no espaço entre a casa da minha única irmã e o muro alto de suporte das terras e casas de lavoura, antes seriam as casas dos trabalhadores e caseiros!
Terminaram as festas e a estadia do casal brasileiro iria terminar daí a dois dias. Talvez para não fazer a viagem sozinho, de Castelo Melhor para Lisboa, minha mãe preparou as coisas de modo a ter companhia até onde fossem ficar os hospedes de uma semana!


                                                           III


No dia aprazado, malas do casal carregadas na albarda do burro e a brasileira a cavalo no macho, lá partiu a caravana para Figueira de Castelo Rodrigo, onde apanharíamos, os brasileiros e eu, uma camioneta para a Guarda.
Os meus pais regressaram a Castelo Melhor e eu segui, como previsto, para a Guarda, onde decidiram ficar e eu para Lisboa, de comboio, pela linha da Beira Baixa, onde o meu irmão Licínio, guarda da PSP-Policia de Segurança Pública, me esperaria, já noite dentro.
Tenho ainda a sensação de que a minha relutância em relação a Lisboa, tem a mesma origem de que outro em relação a Castelo Melhor: ambos se me impuseram, bruscamente, sem me darem tempo de os aceitar; o castelo deve ter-me chocado, mal abri os olhos, uma vez que nasci na casa mais frontal à entrada para a muralha e ali ficou, expectante, como ave de rapina á espera do meu descuido; Lisboa, porque toda a viagem ou uma boa parte dela foi feita às escuras, de noite, e ela me recebe com uma profusão de luz na estação, choque de que nunca recuperei totalmente. Luz e gente demais.
Algumas pessoas corriam ao lado do comboio e eu aguardava, de malita de cartão bem agarrada, a visão de uma farda, igual à da fotografia, a preto e branco, que estava em cima da mesa da sala de Castelo Melhor.
Lá estava ele, fardado. Abraçou-me. Terá perguntado se a viagem correu bem, essas coisas, sem sentido.
Apanhámos um táxi para Campo de Ourique, onde eles moravam, na Travessa do mesmo nome, na mesma casa com mais dois casais e respetivos filhos, todos pequenos.
Se o espaço era pequeno para os que já lá moravam, a chegada de mais um só agravaria a situação. Mas tudo estava mais ou menos previsto; eu dormiria numa parte do sótão, preparado com uma cama e o Jorge, então com cerca de dois anos e pouco, dormiria no quarto dos pais, como antes dormia. O Jorge era o meu sobrinho, único filho do casal, falecido há pouco, assim como a mãe, minha cunhada.
Alguém terá indicado ao Licínio que havia um estabelecimento, para os lados do Intendente, que aceitava rapazes para aprenderem a arte de “aviar” ao balcão. E lá fomos, ao Largo das Olarias, onde acabei por tirar um curdo de “aviador” que durou cerca de duas semanas.
Pela manhã acompanhava o “aviador” já “comandante” na visita a casa dos clientes, para os cumprimentar “bom dia, D.Maria”, precisa de alguma coisinha, hoje? Tomava nota das precisões numa folha de papel pardo e à pergunta de quem eu era, ele, comandante, respondia que era um estagiário.
Depois de fazer as entregas, atento aos pormenores e sequência das operações de “gare” entrava na fase de pormenor da “aviação”. Junto da tulha do feijão catarino, com um saco de papel pardo, previamente aberto, na mão esquerda, com a direita enchia a medida de um decímetro cúbico, feita em madeira, de feijão e procurava, com a ajuda da polpa do dedo polegar direito, que todos os feijões entrassem dentro do saco, repetindo a operação, tantas vezes quantas as que o instrutor chefe e comandante, achasse que estava apto, sempre supervisionado pelo idoso dono da escola, de quem era a última palavra.
Com algumas pequenas diferenças, por serem colocados na balança, tirar ou por, até que o peso estivesse certo, se passou com o arroz, o açúcar, o azeite, o óleo, o vinho e até o petróleo, variando a ferramenta conforme o produto, por isso eu tinha aprendido na escola primária, a conhecer as medidas para secos e para molhados!
Ali era ensinada a forma mais corrente, mais tradicional e quase histórica, da “aviação de balcão”, onde ainda não tinham chegado as modernas auxiliares de execução, tais como as medidoras do azeite e óleo e as balanças que davam para fazer contas. Esses luxos, ali não tinham chegado ainda e não soube se alguma vez chegaram.
Nos casos em que não havia sacos já montados antecipadamente, o aviador tinha que saber fazer um cone em papel, dobrar-lhe o vértice para o saco não se desmontar e poder ir para a balança com o produto lá dentro! Depois de pesado havia que fechar a boca do cone para funcionar como embalagem de transporte; cone na mão esquerda, para os dextros, os dedos, dois ou três, da mão direita, empurravam a parte triangular da boca do cone que servia de tampa e depois fazia-se a soldadura, dobrando em toda a volta a parte da boca do cone, até ficar em condições de ser manuseado e transportado.
Todos os movimentos eram minuciosos e os dedos das mãos, sobretudo os da direita, para os dextros, para os canhotos seria a esquerda, mas destes havia poucos, era corrigida essa má formação, por vezes usando uma luva.
Ao terceiro dia do estágio já não fui acompanhado, já tinha fixado o trajeto desde a Travesse de Campo de Ourique até ao Largo das Olarias. O almoço, preparado pela minha cunhada, era quase sempre uma omeleta de batatas fritas às rodelas. Sabia bem e era diferente da refeição em Castelo Melhor – a do almoço!
Duas semanas depois, já com o diploma de aptidão, entrei ao serviço de um estabelecimento na Rua do Sol à Graça, ainda mais longe de Campo de Ourique. Para regressar no fim do dia, já de noite em Outubro, tinha que apanhar um autocarro no Largo de Sapadores para a Rua Maria Pia, o patrão comprometeu-se com o meu irmão Licínio, a dar o dinheiro para o bilhete todos os dias para regressar.
Como eu não pedia, por acanhamento, o dinheiro ao patrão, cujo nome não recordo, algumas noites tive que fazer o percurso a pé, com algumas dificuldades no inicio, chegando a casa mais que cansado, depois de um dia de trabalho e mais uma hora de caminho; a minha cunhada perguntava por que chegava tão tarde e eu respondia que saímos mais tarde, pois tinha receio que algum deles, me passasse a ir buscar!
Paralelamente ou mesmo antes de curso de “aviador” no Largo das Olarias, todo o cadete, vindo lá da “parvónia”, devia fazer um curso, tipo carta de condução, para aprender a andar na cidade grande, nomeadamente atravessar as ruas, respeitar os sinais, de trânsito e tantos outros, andar de elétrico e autocarro, evitando aos caloiros ter acidentes, como o que tive, na segunda ou terceira noite, no autocarro Sapadores/Alcântara.
Distraído com os outros passageiros, quando iniciava a viagem, mas logo que entrava no bairro, toda a minha atenção se concentrava na paragem onde devia descer, nunca liguei à correia, em cabedal, que acompanhava todo o comprimento do autocarro, junto ao teto, enfiada nos buracos dos suportes, assim como ao ruido do toque de uma campainha, pensei que era para avisar o motorista de que aí para junto dele!
Com alguma sorte, na primeira e segunda viagens, sempre saíu alguém na minha paragem e pensei que seria sempre assim! Não era, naturalmente! Na terceira noite o autocarro não parou e, com medo de me perder, empurrei o passageiro que estava junto da saída e, sem outro pensamento, desci como sabia com o carro parado e não estava; mal os pés tocaram o chão parecia que um vendaval me atirava para a frente, mas pouco durou a corrida; fiz uma aterragem no passeio e com um pouco de sorte passei entre o candeeiro da rua e o muro que suportava a estrada do terreno que havia por baixo! Foi uma vergonha! Os dois passageiros que assistiram à aterragem, gritaram. “ oh matarruano, andas a tentar suicidar-te? Vê lá se tinha que ser hoje e falhaste, oh bimbo!” E eu, bico calado, levantei-me e sentia dores nas mãos, nos joelhos e cotovelos.
Só ni fim de semana, quando tomei banho e mudei de roupa é que vi que os joelhos, cotovelos e peito havia nódoas negras e crostas de sangue na pele e a camisola interior! Tentei esconde-la, mas o cuidado da minha cunhada deu por falta dela e lá tive que ir ao esconderijo e contar o acidente.
Sabes que podias ter morrido, diziam eles. Se não sabes por que não perguntas?
Boa, pensei eu ! Mas perguntar o quê se não se sabe o que precisa ou o que quer saber?!
Tempos depois, já com alguns meses de Lisboa, deu-se o acidente ao contrário, na Rua Passos Manuel: agora a tentar subir para o elétrico em andamento.
Já tinha reparado e admirado, a destreza com que os ardinas, de sacola ao ombro, parecido com aquele que algumas vezes usei para semear, lá na aldeia; subiam e desciam nos elétricos em andamento, até de costas voltadas em relação ao movimento, desciam e nunca vi algum cair.
Deve ter sido mais forte a admiração do que avaliar da dificuldade, pois logo quis experimentar apanhá-lo, quietinho ao lado da linha, deitando só a mão ao varão vertical que havia ao pé da porta, o amarelinho ia já com alguma velocidade que, mal a mão tensa tocou no varão fui atirado para o lado, em completo desequilíbrio; passei entre dois automóveis estacionados e só não me estendi ao comprido no passeio por que, durante a corrida, ainda consegui amparar-me num dos carros entre os quais passei; ainda a tentar o equilíbrio completo, ouvi gritar do elétrico já distante: “oh saloio, escolheste o dia para te matares? Vê se aprendes, ou és doido?!”
E aprendi! Juro !


                                                 IV


Não foi fácil a aprendizagem, já na fase de “licenciatura”, viajando à borla desde os Anjos ao Martin Moniz, pendurado no cacho de outros borlistas, na grade que as plataformas dos elétricos tinham do lado esquerdo, quando o amarelo parou na paragem para a Barros Queirós, onde saíam muitos passageiros, fui filado por um policia e então reparei que o cacho de tinha desmontado, sendo eu o único bago que ficou. Pegou-me pelo braço “ anda cá meu menino, então gostas de viajar de borla? Vamos até à esquadra para esclarecermos isso!” Quantos anos tens? Eu ia dizer que o tinha apanhado ali  mesmo, o que era mentira e o policia não era parvo...acabei por dizer que tinha treze anos e ao mesmo tempo a pensar no que ouviria, quando o policia comunicasse ao colega dele e irmão meu, que me tinha filado à pendura num elétrico !
Quando íamos a meio do Martin Moniz, ainda lá não estava o hotel e menos ainda as barracas que lá plantaram, pareceu-me “ouvir” um sussurro duma voz, que depois reconheci como sendo a do Anjo São Gabriel, que devia seguir-me por todo o lado, a dizer: “escapa-te agora” e pareceu-me que o policia aliviava a pouca pressão da mão que me segurava, e zás, desato a fugir a toda a velocidade e só quando estava a chegar ao Poço do Borratem é que olhei para trás e vi que o policia não tinha saído do lugar onde o deixei! E fez bem, pois a velocidade era já uma das minhas especialidades, praticada em Castelo Melhor, na pista que partia da escola, passava frente à minha casa, descia até atravessar a ponte, subida mais suave para passar à porta da tia Filomena e voltar a descer, atravessar a outra ponte e chegar à meta, tudo isto para avaliar o tempo de equilíbrio dos piões.
Mais tarde, tentei aperfeiçoar, mas falarei da tentativa, mais à frente, se não ficar esquecida.
O meu tutor só anos mais tarde veio a saber da cena do filanço numa das borlas de elétrico, quando já não havia perigo de ralhete.
Outras sabedorias deviam fazer parte da aprendizagem: as finanças e os pregões, matinais uns, os seculares e pelo dia fora outros, mais recentes e menos bem cantados: estes, os pregões, davam um jeitão entendê-los para os não interpretar mal e as finanças por ter sido posto à prova, ainda no mês de Outubro.
Apanhávamos o elétrico na Almirante Reis na paragem que servia os moradores, sobretudo do bairro das Colónias, e fazia o percurso do Areeiro até ao Cais do Sodré ou Belém, aí pelas cinco e quarenta e cinco da matina para chegarmos à hora da abertura do Mercado da Ribeira, o da Rosa e do Xico, que era às seis horas. Hora de grande balbúrdia, empurrões, choques, palavrões, parecendo que tudo queria chegar ao mesmo tempo ao mesmo lugar; e não era assim. Isto sucedia só na entrada, embora os portões fossem bem largos. Depois de entrar a primeira invasão, cada um seguia para seu lado, o mercado estava organizado por espécie de produto, só mais tarde, no prato é que a mistura se dava: carapaus fritos com arroz de tomate, peixe espada grelhado com batata cozida e uma couve portuguesa e muitas, muitas mesmo, as misturas. Na Ribeira as hortaliças e legumes tinham o seu espaço e os peixes também.
O bilhete era de ida e volta e custava oito tostões, oitenta cêntimos do escudo, os tais oito tostanitos. Quando o patrão achou que eu estava já em condições de me desenrascar sozinho nas arrumações do estabelecimento para que, quando a porta fosse aberta, tudo estivesse limpo e arrumado, deu-me a chave e com parte do que tinha já sido comprado, ervilhas e feijão verde, dentro de uma ceira de palha ( alcofa ), voltei para o Largo de Santa Bárbara, enquanto o patrão, João Carlos Fernandes, seguia para o mercado abastecedor das frutas, do outro lado da estação, junto ao Tejo, para se abastecer das frutas diárias.
O bilhete de ida e volta tinha que ser utilizado, na volta, até às nove horas, faltava esclarecer este pormenor.
Apanhei o elétrico no Largo de São Paulo e estava convencido de que tinha já tudo percebido, apanhei o que dizia ir para os Caminhos de Ferro, que não conhecia, mas o raciocínio foi: aquele em que tenho vindo tem linhas de ferro que sobem e descem a Avenida Almirante Reis e outros que deixam a avenida e passam no Largo de Santa Bárbara e comparei com a linha do Douro e a Estação de Castelo Melhor, Nunca fixei quais os nomes dos que iam para onde queria ir. Parecia estar certo, mas não estava e só dei pelo erro quando, no Terreiro do Paço, devia virar à esquerda e o burro continuou em frente, passando ao lado do grande edifício amarelado! Perguntei ao passageiro que estava mais próximo se aquele elétrico passava na Praça  do Chile e logo respondeu: oh, miúdo, estás no caminho errado, este vai para Santa Apolónia, de quem nunca ouvira falar. Entrei em pânico a olhar para o bilhete já revisado, com dois buracos do alicate.
Saí na paragem seguinte, a do Campo das Cebolas e mal deitei contas à vida o pânico virou lágrimas de desespero: sem dinheiro, sem bilhete e uma alcofa cheia de ervilhas e feijões e o estabelecimento para ser limpo e arrumado!
Mal comecei a andar e a pensar quanto tempo demoraria a lá chegar, ao Largo de Santa Bárbara, as lágrimas vinham acompanhadas de soluços! Em sentido contrário vinha uma varina, de cesta à cabeça, que parou e perguntou: “ o que tu tens, meu menino ? Que se passa ? Alguém te fez mal ?” Contei o que se passou! “Deixa lá, tudo se há-de resolver! Toma lá dez testões para outro bilhete e não te esqueças de apanhar o elétrico que vai para a Praça do Chile ou para o Areeiro! Anda, vai lá, ainda vais ter muito tempo!”
Devo ter agradecido.
Nunca mais terei visto a solidária varina do Campo das Cebolas, que resolveu o meu primeiro, talvez o mais agudo, problema financeiro, mas continuo a ter por essas profissionais, que alegravam as manhãs de Lisboa com seus pregões e que esta, mal agradecida, expulsou das ruas, como o fez a tantos outros profissionais e artesãos, nomeadamente aquele que todos os dias ouvia, apregoando os jornais e que ao seu pregão, corrido, eu ouvi, durante o tempo das “aulas”, “ odiar a bola”, e que me irritava, eu que tanto gostava de futebol.
Alguns meses mais tarde, já em mil novecentos e cinquenta e três, meu irmão e família a morar na Rua Eduardo Coelho, junto da Faculdade de Ciências, num domingo à tarde, único tempo de folga semanal, para aliviar o ambiente e deixar a minha cunhada com alguma liberdade de movimentos, para terminar ou começar tarefas domésticas, que seria mais difícil com o pequenito Jorge sempre atrás dela, fui dar um passeio com ele até ao Jardim do Príncipe Real, um pouco acima da Eduardo Coelho.
Tudo estava bem, o Jorge a correr atrás de uma bola pequena e a dar uns trambolhões, mas não se queixava por aí além!
Terá ouvido, ali bem perto, “ olhó gelado fresquinho, fruta ou chocolate; olhó rajá fresquinho!”
Correu em direção ao carrinho, pintado de branco e vermelho, a frente parecia a quilha de um barco, com duas tampas em metal, a cobrir os depósitos, com o gelado bem fresco com a ajuda do gelo por fora dos depósitos. Em letras vermelhas, na época não havia esta cor, só encarnada, onde se lia: “Ice Cream” e “Rajá”.
- Quelo um gelado, pediu o Jorge; perguntei quanto custava, mas já em sérias dificuldades, pois calculava que custava mais do que eu tinha! Custa dois tostões, o mais pequeno ! Era o que eu pensava e só tinha um tostão, era tudo o que restava da semanada, dada ao almoço de domingo, pelo senhor João Carlos Fernandes, meu patrão, cumprindo ordens do meu “tutor”, meu irmão e pai do Jorge, quantias que me eram descontadas no fim do mês, dos setenta escudos que ganhava recebia sessenta.
Tentar explicar a um menino, de mais ou menos dois anos, que não tinha que chegasse, era o mesmo que chover no molhado. Ele nada sabia de dinheiro e a única coisa que queria era um gelado! Do pedir, passou a exigir e eu sem possibilidade de resolver a exigência! Desatou a gritar e a atirar-se para o chão, fazendo uma birra que nunca tinha presenciado ! O senhor do carrinho não se comoveu, certamente habituado a cenas destas e eu também não o conhecia de lado algum, por isso não ia pedir-lhe para me fazer um gelado de um tostão para calar o garoto.
A única solução foi pegar-lhe pela mão, procurar desviá-lo daquele “local de pecado”, mesmo com ele a espernear e a gritar “ eu quelo um gelado”, “eu quelo um gelado”; peguei nele ao colo e saí dali quase a fugir e levar murros que o Jorge me dava na cabeça!
E hoje, registador de memórias já na terceira idade, continuo a afirmar que, os mais graves problemas financeiros que tive, se passaram nos primeiros meses daminha chegada a Lisboa; o primeiro, com a ajuda duma solidária varina e o segundo ficou por resolver, sendo a vitima o pequenito Jorge, meu sobrinho.
Todos os outros que foram surgindo pela vida fora, ou dentro, e foram muitos e mais volumosos, sempre fui encontrando outros tipos de solução, a maioria deles recorrendo a empréstimo bancário.


                                                           V


O edifício do Largo de Santa Bárbara, apalaçado, com a frontaria em azulejos azuis, penso que ainda hoje existe, sem alterações de vulto, era utilizado, no rés do chão, pela mercearia de que eu era o único empregado e do lado esquerdo, pela taberna do cidadão espanhol, cujo nome não recordo, mas a tasca era conhecida pela “do galego”; entre os dois estabelecimentos era a porta principal do edifício, com todo o acesso à escadaria, forrados também a azulejos; todo o piso era ocupado pelo Centro Escolar Doutor Salgueiro de Almeida e parte das traseiras, a nível do rés do chão, foi construído um pequeno ringue de patinagem, naquilo que seria o terraço do edifício antes de ser escola. Era ali que os alunos, não todos, naturalmente, ocupavam alguns dos tempos livres, o mesmo sucedendo com os que frequentavam as aulas noturnas.
Pela entrada principal do edifício se chegava ao interior da mercearia, já que o portão ficava fechado, por uma porta ondulada, durante a noite e aos domingos e feriados; a tasca do galego tinha a entrada de serviço pela Travessa do Regueirão.
Abria por volta das sete e trinta a servir pequenos almoços, muitos eram acompanhados com vinho e poucos com galão, mas o que a maioria não dispensava, sobretudo no inverno, era o bagacinho, dito da praxe. A maioria dos clientes daquela hora eram os operários da Fábrica Portugal, única que produzia fogões a gás e outros, cujas instalações fabris se situavam no Regueirão dos Anjos, ocupando todo o quarteirão que ía da Rua Egas Moniz à António Pedro; do quadro de pessoal deviam fazer parte cerca de centena e meia de operários, sendo estes os principais clientes da tasca e alguns notívagos que por ali estiolavam, onde a prostituição tinha alguma atividade.
A Fábrica Portugal tinha refeitório, mas muitos preferiam trazer a lancheira e servir-se da tasca, poucos, já que poucos eram os lugares e os muitos usavam os passeios ou degraus de entradas para se sentarem e ali faziam de esplanada, aproveitando para se meterem com as raparigas que passavam e alguns terão mesmo arranjado algum “engate” para depois do trabalho.
O prédio em frente, de cinco pisos, moravam várias pessoas ligadas à noite, em camaratas, que os inquilinos iam formando e transformando numa fonte de rendimento; alugando dormidas, como sucedeu comigo durante um ou dois meses, antes de a família e o patrão mudarem para o primeiro prédio a ser construído mesmo em frente à Rua Passos Manuel.
Pelo Largo e ruas vizinhas, apareciam, frequentemente, raparigas muito jovens, algumas com catorze ou quinze anos, caídas na prostituição acidentalmente, ao ficarem sem trabalho, por uma ou outra razão; eram quase sempre criadas de servir, sopeiras, em linguagem de calão, hoje empregadas domésticas! Teriam ido para Lisboa por ouvirem dizer que arranjavam facilmente trabalho, ou por que a Organização ligada à Igreja católica, que habitualmente as recolhia, alguma regra era incumprida, as punha na rua! Sem dinheiro e sem casa, eram presas fáceis para quem procurava apenas satisfazer o seu ego ou delas se servir como fonte de receita: os e as exploradoras da prostituição.
Havia casos deploráveis durante a noite e até durante o dia, quando se excediam na bebida, o que nem era difícil,  por falta de hábito e também por mal alimentadas! Não era raro haver rixas entre elas ou elas e eles, muitas vezes irem de gatas para a camarata, pois o equilíbrio se tinha perdido quando faltava o apoio do balcão da tasca. Aquilo que muitas pensavam ser uma situação má, mas passageira, muitas vezes se enganavam e passava a definitiva; as rusgas da policia eram frequentes e quase todas as noites levavam uma ou mais para a esquadra.
Com toda esta ambiência, o galego deve ter-se deixado levar por um vendedor de slot-machines, e deixou instalar uma, no espaço que era utilizado pelos clientes, ou seja, entre a porta e o balcão, colocada sobre uma mesa mais alta do que as duas em que os fregueses se sentavam.
O pessoal da Fábrica Portugal caiu ali em cheio, sobretudo aos fins de semana, quando recebiam a semanada, à sexta feira, quase se engalfinhando, travessa acima, para serem os primeiros a jogar e, quase sempre, eram os primeiros a ficarem de bolso vazio, a slot tinha-lhe ficado com o produto do trabalho de cinco dias ou foi parar ao bolso de outro colega que tivera mais sorte. Acabavam por perder sempre, se não era num dia era noutro, como sucede hoje nos casinos, a quem foi concedido o direito de exploração, depois de publicitado pelas tascas do Galego e de outros espalhados pelo País.
A coisa tomou proporções tais que, a certa altura começaram a aparecer as famílias dos espoliados, ao principio uma ou duas, levando as crianças, apenas investigando como funcionava o tal jogo; as crianças não iam para criar ambiente ou dar nas vistas, apenas por que não tinham as quem a deixar.
Algumas, mais atrevidas ou mais prejudicadas, começaram por insultar o Galego, mas acabando por irem embora, destroçadas e ainda piores do que tinham chegado, pois o galego não se ficava e respondia na mesma linguagem e com claque!
Se o galego pensou que as lesadas da slot se iam cansar e desistir, bem se enganou: numa sexta-feira, ia a tarde a meio e os operários ainda a cumprirem o horário de trabalho, apareceram seis mulheres, à frente delas uma das que já ali tinha ido e dito coisas ao galego que, certamente, fingiu não perceber, tais como lhe chamar ladrão e chulo, entraram na tasca, foram-se à slot, gritavam para o galego: “hoje vai-te sair o jackpot, apearam-na do seu trono, trouxeram-na para a rua e, no passeio, foi tantas vezes atirada que, do seu “ventre”, esventrado, saíram todas as moedas que tinha amealhado, não sei em quanto tempo!
Ao mesmo tempo iam dizendo ao aturdido galego, que não mais iria roubar o pão da boca dos filhos e que voltasse a colocar outra, até ele, taberneiro, ficava de cabeça partida ou esventrado como a slot tinha ficado.
Quando a policia chegou só estavam no local os restos da maquineta, o taberneiro a apanhar as últimas moedas espalhadas pelo passeio e pelo alcatrão!
Nunca mais lá vi tal coisa, voltando tudo à rotina habitual e à calma social.


                                                 VI


No dia vinte e nove de Dezembro de cinquenta e três, choveu toda a manhã e tarde; aquele chuva miúda mas ininterrupta. Os clientes, talvez por se aproximar o fim do ano, reforçaram as encomendas, de alguns produtos, acima do habitual, certamente para de algum modo celebrarem o acontecimento, mesmo que o tempo não estivesse para grandes folias! Para mim representou apenas em mais trabalho.
Alguns clientes que moravam junto ao Largo, mudaram para outros pontos da cidade, para mais longe, portanto, mas mantinham-se fiéis, por qualquer razão que não garanto ser única, eram os que compravam fiado e elevavam a conta até mais não poder! Nos dias que correm, com a tomada do mercado pelos novos “reis” sem pátria, não sei como fariam, mas os efeitos sabemos: a quase extinção dos retalhistas e de alguns pequenos armazenistas.
Mas era da chuva que estava a tratar, e a deriva para outros temas só por distração sucedeu. Retomando a chuva e aumento das encomendas; com o aumento das encomendas, aumentava o tempo de entrega e também o tempo de rua, em grandes deslocações, de cabaz ao ombro até à Alameda Afonso Henriques e a Praceta Afrânio Peixoto, ainda mais longe.
Tempo para parar não havia e a chuva teimava em não dar tréguas, fingindo que não estava nada ralada comigo e com todos os que, como eu, nem sequer chapéu de chuva podiam usar. Para alguns pode ter sido benéfica, para mim foi maléfica e de que maneira.
Não houve mudança de roupa e a que estava encharcada acabou por secar no corpo!
 Recordo que me sentia cansadíssimo quando, perto das onze da noite me deitei e recordo que, de madrugada, acordei gelado e com a sensação de estar com febre alta. Como não tinha forma de comunicar com alguém, tive de esperar pela manhã, quando o patrão, às cinco e trinta e deve ter notado o meu estado e fui dispensado de ir com ele aos mercados; aconselhou que me mantivesse na cama e tomasse qualquer coisa quente; devo ter tomado, ou não, recordar-me não recordo.
Como a febre não baixava, mesmo depois de ter tomado dois comprimidos que na farmácia venderam e iria fazer o feriado do ano Novo, fui visitar a família e já não voltei, por que a febre não baixava.
Logo no dia dois de Janeiro fui atendido pelo doutor França de Sousa, especialista em pneumologia, que recomendou um raio X, receitou umas injeções endovenosas para que o efeito fosse mais rápido e uns comprimidos de cálcio.
A seguir à febre alta, que durou vários dias, veio uma falta de apetite total, rejeitando tudo o que fosse sólido, incluindo os comprimidos, tentando tomar o que tinha rejeitado, uma, duas e até três vezes, até que se desfazia.
Passadas duas semanas de tratamento, sem resultado visíveis, apena a febre tinha cedido, o doutor, depois de ver a radiografia, achou que eu devia mudar de ares.
No inicio de Fevereiro caíu em Lisboa um nevão que deve ter espantado toda a cidade e eu, farto de estar na cama, levantei-me e da janela do primeiro andar, da Eduardo Coelho, vi o espetáculo do branco a cobrir o que daquele observatório de podia ver, telhados, carros, os candeeiros a gás...! Logo apareceram os estudantes da Faculdade de Ciências, e começou a aula de guerras futuras e o inevitável boneco de neve, com seus adereços e uma capa cedida por um dos futuros cientistas, cobrindo as toscas costas do gelado, de nariz afilado e olhar frio, vendo as batalhas campais que, curso terminado, iriam travar para outras bandas.
Eu recordava, com uma agora doente saudade, o tempo em que nos juntávamos, nos dias de nevão, frente ao cemitério e aí começava a bola de neve que ia crescendo, rua abaixo, até à travessa que dividia as tapadas do senhor Poinhos e de outro proprietário; aí tinha que ser livre de escolher o seu destino: era grande demais para a segurarmos e inclinado o caminho entre os muros! Raramente chegava inteira ao ribeiro; pelo caminho ficavam pedaços que iam abandonando o todo com as pancadas dadas nos muros, que sempre iam passando de um para o outro até, perder a forma esférica e se esparramar e aos poucos derreter.
Do “negócio” havido entre o meu tutor e a minha mãe, terá ficado decidido que ela iria a Lisboa para me levar para Castelo Melhor. Chegou no dia seis de Fevereiro e na noite de sete para oito, em Santa Apolónia, apanhámos o comboio para o Porto, onde chegaríamos de madrugada, depois de ele parar em tudo o que era estação ou apeadeiro.
Foi a primeira vez que fiz aquela viagem e pena tive de não poder aproveitar a beleza da noite em cada paragem! Havia sempre alguém, sobretudo mulheres, vestidas com trajes vistosos, certamente tradicionais, a oferecer iguarias da região ou mesmo da localidade! Os que mais recordo são os pastéis de Tentúgal, as arrufadas de Coimbra e as barricas de ovos moles, de Aveiro. Água fresquinha, como anos mais tarde apregoavam em várias estações, em Fevereiro não havia oferta, com neve a cair em vários sítios ! E eu embrulhado num cobertor novo que a tia Amélia tinha comprado, mal chegou a Lisboa e se apercebeu do friasco que estava.
Quando chegámos ao Porto nevava tanto ou mais do que tinha nevado em Lisboa, dias antes; o comboio para Barca d’Alva só partia depois do almoço, não recordo a hora. Decidida como sempre foi, a tia Amélia, sempre com a intenção de me resguardar o melhor possível, resolveu que iriamos num comboio que partia dentro de minutos, mas apenas chegava à Régua. A ideia era, uma vez mais, tentar que eu apanhasse o menos frio possível e podia dar-se o caso de, na Régua, não estar tanto, mas errou o lance, o frio era ainda mais do que no Porto.
O chefe de Estação, ao ver-nos naqueles preparos, levantou-se da cadeira e ofereceu-nos o lugar que ocupava e a cadeira vazia, o que foi muito bom, pois, lá escondida, estava uma braseira que me deu um jeitão e vi a tia Amélia sorrir, esfregando as mãos juntas à boca. E o simpático funcionário circulava no espaço da estação e via-se no seu rosto que estaria bem melhor sentado junto da braseira; mas olhava para mim, esquelético, pálido como cera, deve ter pensado que estaria tuberculoso e em final de “carreira” e lá arranjava coragem para voltar ao passeio e ao frio.
Passadas horas chegou o bota fumo que me levaria até à estação de Castelo Melhor, onde chegou já muito perto das dezassete horas, o último e por lá conhecido pelo comboio do correio, era nele que vinham os sacos com o correio, fechados, um para cada freguesia.
Já nos esperava meu pai e o meu sobrinho Sílvio, ainda novito, mas sempre pronto a colaborar em tudo. Ajudaram-me a montar no macho, embrulhado no cobertor, à frente da minha mãe, sempre atenta ao cobertor, não fosse ele escorregar e eu apanhar frio e também evitar que eu me desequilibrasse e caísse.
Já com o Sol a desaparecer entre as nuvens, chegámos a casa e logo apareceu a Mariquinhas que mal olhou para mim, logo desapareceu; soube mais tarde que para eu a não ver chorar, convencida que eu vinha para mudar de ares e caminhar para a última morada, tal achou o meu aspeto.
No dia seguinte fui visto pelo doutor Caldeira, o mesmo que decidiu que não era uma ferida ruim, mas que era eu que chegaria uns meses depois; tinha consultório em Almendra, onde residia e ia a Castelo Melhor uma vez por semana ou no caso de urgência, como era o meu, as vezes que fosse solicitado.
Viu a radiografia no contraluz do candeeiro a petróleo, auscultou-me, viu-me os olhos e, dirigindo-se à minha mãe:
- Amélia, ele não tem nada de especial nos pulmões,
- Graças a Deus - disseram ambas como um coro!
- mas tens aqui muito que tratar ! Ele precisa é de comer e repousar!
O susto que a minha irmã apanhou, quando me viu chegar, deve ter sido bem real ! Pesava quarenta quilos, a minha cor devia ser pouco saudável e a tuberculose era ainda uma doença complicada!
o mesmo: borrego cozido, cujo cheiro permanecia em mim como se de mim fosse parte integrante, bastava falarem-me em comer e de imediato a sensação de vómito me atacava! Necessariamente teria que perder muito peso! Foi este o retrato que a Mariquinhas viu, quando cheguei naquele preparo.
A carne grelhada era sempre acompanhada com grelos de nabo guisados, um esparregado feito de grelos de nabiça, muito tenros, como era hábito na região; e muito repouso.
Passados cerca de três meses o meu peso passou para os cinquenta e seis quilos, a cor era de saúde e estava pronto para outra.
Voltei a Lisboa em meados de Maio e voltei para o mesmo trabalho, o mesmo patrão e no mesmo Largo de Santa Bárbara; passaria a ter o ordenado de cento e vinte escudos mensais, quando meses antes era de setenta escudos.
Fiquei admirado, não tanto pelo dinheiro, esse era o meu “tutor” quem geria, mas pelo aumento. Depressa vim a perceber.
O empregado que entrou quando eu adoeci, deve ter sentido dificuldades em dar conta do recado – era, de facto, difícil ! – e para azar dele ainda foi assaltado durante a noite, deve ter tentado impedir o roubo, acabando por ser agredido e abandonado a sangrar junto à porta ondulada, no interior do estabelecimento, até que alguém que passou e o ouviu e assim foi assistido. Não cheguei a conhece-lo!
Devo ter interiorizado o acidente, mesmo não tendo sido comigo, a verdade é que o meu sono passou a ser uma quase permanente vigília! Bastava o patrão apontar a chave na fechadura da porta de entrada no interior da escada e de imediato eu me levantava e me preparava para o trabalho! Nunca foi preciso despertador.
Não houve problemas de registo durante o resto do ano, mas no Inverno seguinte, por qualquer razão que não sei explicar, voltei a constipar-me e a bronquite voltou também, nada que se parecesse com a anterior.
Para que a situação se não agravasse e se arrastasse, tudo ficou de acordo que eu devia voltar a Castelo Melhor, os ares do campo é que me faziam bem.
Esta era a solução, o problema era um pouco diferente, o meu irmão, cunhada e sobrinho continuavam a viver na parte de casa da Eduardo Coelho, juntamente com uma senhora de idade e um filho, de cerca de cinquenta anos, doente mental, com ataques de esquizofrenia e sempre provocador, a minha cunhada, solicita e subserviente como sempre foi, propôs-se dar uma ajuda à senhora, mas não tardou muito para estar a cozinhar para eles, lavar-lhes a roupa e limpar a casa toda! O idiota ainda reclamava.
A certa altura a senhora desequilibrou-se a descer a escada, um só vão e com uma inclinação fora do comum, seriam uns vinte degraus que iam dar à porta da rua; da queda resultou uma perna partida.
Mal saiu do hospital, a minha cunhada passou a ser tudo o que já era e ainda prestar cuidados de enfermagem; o filho passou a incluir na reclamação que estaria a ser pior tratado agora.
O meu irmão, já a tomar comprimidos para o sistema nervoso, continuava a procurar casa e quando voltei de Castelo Melhor já não fui para a Eduardo Coelho, mas para uma outra, para os lados das Amoreiras, mas cujo nome não recordo, com as traseiras voltadas para o Clube Atlético de Campo de Ourique, de onde se podia assistir aos treinos e jogos de hóquei em patins e patinagem artística.
Também não voltei para Santa Bárbara, mas para a Rua dos Prazeres, depois para a Rua de São Bento e por fim para a Rodrigo da Fonseca, coincidindo sempre com as mudanças de casa da minha família.
Na rua Rodrigo da Fonseca fiquei até ir prestar serviço militar.


                                                 VII


Seria mais difícil perceber o período que se seguiu se, ao contrário do que tinha decidido fazer, ou seja, passar em branco o período da Rua dos Prazeres e São Bento.
De facto, foi durante aquele período que conheci o José Manuel Santos, colega de profissão, um ano mais velho que eu, grande entusiasta da leitura, tendo em mente, a curto prazo, escrever, mas a entrada para a tropa deve ter alterado o plano, desviando-lhe a atenção para outras coisas, certamente não menos interessantes do que a de virar escritor. Eramos ambos muito jovens e não tínhamos ainda ensaiado a caminhada da vida por outros caminhos que não fosse a escola e o trabalho escravo. Não foi ali espoletado o meu gosto pela leitura, apenas encontrei mais um seguidor, um pouco mais avançado na seleção a que já se podia dedicar, por o seu patrão ter uma vasta biblioteca.
Mas houve mudanças naquele período: se até ali só tinha acesso à banda desenhada, por empréstimo a maioria e pela compra de um ou outro exemplar, a partir da ida para a Rua dos Prazeres, que tem nas traseiras o Páteo dos Caldeireiros, habitado, na altura, quase só por famílias ligadas á estiva e venda ambulante de peixe, as varinas; refiro-me à geração anterior à minha, os da minha idade já procuravam outras ocupações, mais leves e limpas, mas também menos rentáveis.
Duas das adolescentes que ali moravam, trabalhavam na Agência Portuguesa de Revistas e, ao que soube, tinham direito a um exemplar de cada titulo publicado. A Agência publicava também banda desenhada, mas o seu produto mais representativo eram os livros de bolso, muitos deles de autores mais acessíveis, com traduções descuidadas, sendo a maioria erros de ortografia, demasiado óbvios, portanto nada a ver com tradução. A preocupação primeira devia ser a de colocar no mercado, sem hiatos, um os mais títulos, relativamente baratos, sempre alargando o número de leitores, pouco ou nada exigentes, desde que acabasse em festa, os românticos, policiais, aventura e coboiada. Publicava revistas semanais, como hoje ainda sucede; era preciso que as pessoas lessem, a qualidade não era importante.
As minhas vizinhas não tinham hábitos de leitura, mais preocupadas, aos quinze ou dezasseis anos, em se arranjar para ficarem mais bonitas, copiando, dentro do possível, modelos que as revistas apresentavam. Não precisavam. Eram particularmente bonitas, ambas.
Como não liam e souberam que eu gostava de ler, passei a ser o beneficiário de todos os livros de bolso, trazendo sempre comigo um exemplar que ia lendo, em cada pequena pausa, nas escadas dos prédios, quando ia entregar as encomendas, feitas pela manhã!
Mas era de noite, à luz de um candeeiro a petróleo, num espaço sem luz, sem janelas, apenas uma cama e uma prateleira onde apenas cabiam as cartas que, o agora encarregado, já casado, escreveu à agora esposa, certamente, dentro de uma caixa de cartão e quatro pastas-arquivo, usadas nos escritórios! Era tido como o quarto do empregado e o então encarregado, por lá deve ter passado.
O antro, teria sido contruído, fora do prédio, já nos terrenos do Páteo dos Caldeireiros para servir para qualquer coisa, menos para alguém ali dormir; a entrada era por um pequeno saguão, para onde dava a única porta da cozinha, sempre coberto de excrementos das centenas de pombos que alguns moradores do Páteo criavam, treinavam e competiam nas largadas, até internacionais.
Como no Inverno tinha que manter a porta fechada para aguentar o frio, quando de manhã me levantava era uma escarraria abundante, do fumo inalado durante a leitura;
Um dia, penso que era feriado, fui descansar um bocado e reparei que tinha abundante companhia durante a noite, pois o cobertor de papa estava repleto de pulgas, sendo elas que me marcavam e por isso aparecia com marcas de picadas em vários pontos do corpo; era um lugar perfeito para aquele tipo de parasitas: dormiam escondidas no cobertor e faziam as refeições, sugando-me o que me fazia falta! Nunca me tinha apercebido por que quando estava acordado era para ler e quando mudava da leitura para o dormir era a sério!
Chamei o senhor Alberto, o encarregado, para ver aquela parte do hotel, que foi de seguida dar instruções à “governanta” para fazer desaparecer o cobertor e fazer uma limpeza a fundo a todo o espaço.
O proprietário do estabelecimento era um cidadão espanhol, de nome José Rodrigues, com mais de oitenta anos, muito doente e acamado, vivendo com uma algália para que a urina escorresse para o saco ou vaso, por estar incontinente.
O encarregado ainda tentou convencer o idoso patrão a alugar um quarto para eu dormir, já que a parte da habitação só tinha dois quartos, um para o patrão e outro para a governanta. Mas ele não estava já em condições de tomar decisões e assim fui ficando até que, por mero acaso, algo veio despoletar a decisão.
O senhor Alberto, quando chegava por volta das cinco e trinta, como em Santa Bárbara, começou a reparar que alguns artigos, os mais variados, faltavam nas prateleiras, sobretudo conservas, pacotes de massas e até frutas, perto do fim de semana. Era durante a noite que as coisas mudavam de lugar e era preciso saber para onde.
Quando falou no assunto, respondi que já me tinha apercebido e que se não era nenhum de nós, o senhor Rodrigues também não era de certeza, só uma pessoa podia ser e tínhamos que averiguar.
Propus que, na manhã seguinte, que era sexta-feira, eu não iria à Ribeira e ficaria escondido na arrecadação que ficava por detrás da prateleira de fundo, onde se guardavam os produtos mais leves e que nos eram fornecidos em caixas de cartão os sacos de linhagem.
E assim foi. Quando ele chegou, eu subi para a arrecadação e ele seguiu para o mercado; sem fazer qualquer ruido, esperei que o “rato” se fosse abastecer. Depressa chegou; mal o senhor Alberto saiu, apareceu a governanta, de alcofa na mão, onde tinha já uma variedade de artigos, desde bacalhau, assucar, conservas e estava a escolher pêssegos, a que juntou laranjas e saco com bolachas e bolos secos, que eram fornecidos em caixas e meias caixas, para serem vendidos em pequenas quantidades.
Quando terminou o avio regressou, com a alcofa ao interior da parte da habitação, que tinha entrada por dentro e por uma porta ao lado.
Regressado do mercado logo quis saber se a “governanta” se tinha abastecido? Abasteceu e bem !
Foi direito à cozinha e depois ao quarto da governanta,  levando alcofa e governanta ao quarto do senhor Rodrigues, enquanto ela ía gritando que fomos nós, eu e encarregado, que metemos as coisas na alcofa só para a colocar mal perante o patrão, apontando diretamente para mim, como era de calcular. O patrão, uma vez mais não tomava qualquer atitude e tinha sua razão!
Acabei por perder toda a compostura e, numa incontida raiva, peguei num dos bancos da cozinha – a discussão estava já a dar.se naquele compartimento – e, agarrando-o por duas das quatro pernas, tentei acertar-lhe com o assento na cabeça! Ela deve ter imaginado o que iria suceder e esgueirou-se para aquilo que era a casa de banho da cozinha, um cubículo onde estava instalada uma pia para despejos; a porta partiu-se de alto a baixo, o senhor Alberto segurou-me o banco e eu saí porta fora, ouvindo o idoso patrão a gritar: “mas que desgraça se está a passar?! Oh, valha-me Deus! E eu aqui sem nada poder fazer!”
Cerca de duas horas depois de o estabelecimento ter fechado, apareceu, em casa do meu irmão, o senhor Alberto, a comunicar-me o que tinha sido discutido e decidido: “o idoso não pode prescindir de uma pessoa que lhe dê a assistência mínima que precisa e que não é fácil encontrar alguém que se preste a fazê-lo, mas falou com a filha e o genro, também ele comerciante com loja aberta na Rua de São Bento, que propuseram trocar com um dos empregados, o mais novo, indo eu para São Bento e ele para a Rua dos Prazeres.
E assim se fez. Mas durou pouco, bem mais do que devia ter durado.
O senhor António Lopes David, assim se chamava o novo patrão, genro do idoso José Rodrigues; pessoa com mais de cinquenta anos, sem filhos, morava com a esposa na Rua de Santo Amaro à Estrela e os dois empregados também lá dormiam, num quarto interior, antes teria sido uma dispensa, cuja única luz que lá chegava era através de uma pequena janela, perto do teto, que dava para um quarto que chamavam de costura, mas que mais não era do que o quarto junto à cozinha e a camarata seria a dispensa; tinha um beliche, a cama de cima era a que o Fernando, o mais velho, ocupava e a janelinha era aproveitada pelo Fernando, quando uma sobrinha da esposa do senhor David lá pernoitava, para namorarem como podiam!
Numa adiantada fase de alcoolismo estava o senhor David, tendo como companheiros de jornada, um taberneiro e carvoeiro, onde nós tomávamos duche, aos domingos de manhã, logo que terminávamos a limpeza e arrumação da mercearia, quase pegado à mercearia e do outro lado era um ferro-velho, dependente também e ainda, da parte da tarde, se juntava um taxista, o senhor Silva, já com idade de ter juízo, mas que, todos os dias, a seguir ao almoço, aparecia para se enfrascar com companhia!
De manhã eram os três comerciantes que disputavam um campeonato de quem mais copos de vinho branco bebia de manhã!
Como o taberneiro não tinha empregado, era na tasca que começavam as provas, depois vinham para a mercearia, na parte interior que servia de armazém e onde estavam os pipos do vinho, uma talha em folha zincada onde armazenava o azeite; ali se davam grandes debates, da mais profunda sabedoria, sobre o Deus Baco e as mulheres que se portavam mal e dos maridos destas, que até sabiam, mas não se importavam.
Foi no meio de um destes acesos debates, que me chamaram para encher mais três copos, a partir de certa altura já nenhum o conseguia fazer sem entornar metade do liquido; estava dobrado para encher e passar os copos, quando ouvi um barulho de coisa dura a atingir o cimento e a serradura que o cobria para que o vinho entornado e o azeite, não manchasse irremediavelmente o pavimento, vi o senhor Silva baixar-se, com a destreza que o vinho lhe consentia, apanhar um objeto que não identifiquei, dirigir-se ao lavatório, passar por água e enfiar na boca e voltou a falar como antes, parecendo que o tinha engolido!
Quando cheguei ao balcão, contei a cena ao Fernando e mesmo a rir da minha ignorância lá me disse que o Silva usava prótese dentária, de que eu nunca tinha ouvido falar, nem conhecia alguém que usasse.
Alguns meses depois, já perto do encerramento da loja, o senhor David, embarcado em ondas de álcool que o desequilibravam, costumava ir encostar-se à máquina registadora, daquelas de manivela da marca “António Pessoa”, se não estou em erro, não facilitou o meu acesso à manivela, tendo que pedir licença; desviou-se um pouco, mas deu para fazer o troco e como também era costume, resmungava palavras que se não percebiam; mas no meio daquele monólogo, nesse dia, percebi, como o Fernando percebeu também, ele dizer: “ando eu aqui a sustentar estes filhos da puta” e continuou a rosnar.
Perguntei-lhe a quem ele se referia e ele respondeu que era a nós os dois, ou seja, eu e o Fernando! Perdi o domínio da situação, deitei a mão a um de quilograma que estava, com outros junto da balança e atirei-lho em direção à cabeça.
Talvez por instinto o bêbedo desviou a cabeça o suficiente para evitar que o atingisse e foi bater na vitrina que estava por detrás dele, que ficou feita em pedaços, com os vidros a cair e a partirem-se ainda mais.
Saí porta fora, uma vez mais, embora por motivos diferentes, sem me despedir do Fernando, indo diretamente para Campolide, onde o meu irmão e família estavam já a morar há algum tempo.
No dia seguinte o meu irmão foi saber o que se tinha passado e o senhor David deve tê-lo convencido de que só o vinho o teria levado a dizer tal coisa e que eu voltasse ao trabalho, prometendo que não voltaria a repetir tal insulto e que já tinha pedido desculpa ao Fernando.
Voltei; na condição de ele, senhor David, à frente do meu irmão, pedisse desculpa pela forma injuriosa como se referiu à nossa Mãe!
Antes de pegar ao trabalho, com o meu irmão ainda presente, tive que lhe dizer que, quando eu nasci, minha Mãe era tão séria como seria a Mãe dele quando ele nasceu.
Seria difícil que as relações voltassem a ser normais; o quarteto estava cada dia pior e sentia sempre relutância em lhes aviar copos de vinho.
O ferro-velho metia nojo, quando saía a cambalear e encontrava algum carro estacionado em frente à pequena montra virada para a Travessa de Santa Quitéria, e desatava a escarrar para cima do carro, puxando os escarros da garganta e das fossas nasais.
Passado pouco tempo, de acordo com o meu irmão e por sua iniciativa, como sempre, fui trabalhar para a Rua Rodrigo da Fonseca, para um estabelecimento do mesmo género, mas pequeno, quase só de frutas e legumes, algumas conservas e vinhos e licores, tudo embalado, nada a granel. O  proprietário, de nome Alfredo Granjo China, foi quem cedeu uma parte da casa em que habitava, ao meu irmão e família!
O meu espaço para dormir era uma dispensa, junto à cozinha e quarto de cozinha, onde meu irmão e cunhada dormiam e o Jorge dormia comigo na dispensa!
Entretanto o senhor Alfredo, que tinha uma filha pequena, da idade do Jorge, talvez um pouco mais nova, veio a ser pai de um rapaz de que meu irmão foi padrinho! Enquanto de berço não se notava alteração no espaço, apenas complicava um pouco quando não deixava dormir o meu irmão, na época ainda fazia o giro por turnos, o que deve ter levado a mudar para uma outra casa, de um colega dele, com um filho e tinha já um quarto alugado a uma senhora viúva de um militar, do qual recebia uma pensão!
No estabelecimento trabalhei até ir para a tropa e até alguns sábados e domingos, ao fim de semana, só deixando quando fui para Angola.
Nesse período, andei no atletismo, fiz um curso de ginástica e tive aulas externas à noite!
O meu gosto pela música clássica tem a ver com os concertos a que tinha acesso, grátis, que a orquestra da Emissora Nacional e a da GNR- Guarda Nacional Republicana davam no Pavilhão dos Desportos, hoje Pavilhão Carlos Lopes e na Estufa Fria !
Os contactos com o pessoal do atletismo, nomeadamente o José Manuel Santos, foram-se diluindo, ele era um ano mais velho, foi enfermeiro militar no Hospital da Estrela e que depois encontrei em Luanda, na enfermagem do Hospital Militar, mas poucos foram os encontros, ele namorava e estava a preparar-se para casar, dedicando-se à família e enfermagem.
Para terminar, fugindo um pouco ao tema proposto, o colega de sempre desde a ida para Angola, todas as mudanças feitas, o Nelson Magalhães, ficou em Luanda com o Tenente tesoureiro, para fazerem a transferência do espolio, durante não sei quanto tempo, mas nunca mais o consegui localizar; talvez tenha ficado por Luanda e casado com a namorada de então, mas isto são apenas deduções que apenas servem  para me não sentir tão culpado.
Foi quase sempre assim minha forma de estar na vida. Quando mudava não era só de cenário, mas todo o elenco mental, para partir da estaca zero.

Reis Caçote
Dig. 25/Abril/2017


              DAQUI, COM OS MEUS PAIS E O CASAL BRASILEIRO, A PÉ E A CAVALO, FOMOS ATÉ...

   DE FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO PARA A GUARDA, DE CAMIONETA, COM O CASAL BRASILEIRO!



        DA GUARDA, DE COMBOIO, ATÉ LISBOA, ROSSIO


             E POR AQUI FIQUEI ATÉ IR PARA A TROPA




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